Alice,
Queria dizer sobre a sua voz mansa e a sua poesia. E de como, através dela, eu sentia que a vida seria mais fácil se eu sempre tivesse por perto essa poesia escondida atrás desses olhos que são os únicos que conseguem me enxergar como sou. Queria dizer mais sobre isso, mas empaco. Sinto aquela sensação de que as coisas deveriam ser ditas, mas na hora de reformular pra dizer - e nesse caso, escrever -, acabo me confundido e não dizendo nada. Ou até digo, mas nada do que está aqui preso, estagnado. E sufoca.

(Fato que, não pretendia começar assim. Cartas nunca foram meu forte, you know.)

As coisas andam complicadas demais e penso eu que isso nunca vai mudar. As vezes até gosto dessa confusão, gosto de ter que cumprir regras e me moldar pra ser, para os outros, algo que não sou. Isso tira o peso de cima de mim de ser eu mesma. Mas as vezes cansa, Alice. Tenho vontade de deixar as obrigações de lado, levantar as oito horas, fazer um chá e ir me sentar na varanda. Talvez adormecer, ler um livro, ouvir Chico, ou só ficar ali parada, eu-comigo-mesma. Você também sente isso?

Tenho aprendido com o tempo a esperar menos das situações. Isso é bom, não é? Perdi muito pensando no que minha vida poderia ser - e a vir se tornar - e deixei diversas oportunidades de fazer com que, de fato, ela seja algo. Me entende? Parei com isso. Aprendi, também, que o melhor caminho é aquele que faz nós mesmos nos encontrarmos um pouco mais a cada passo e, por isso, eu sigo. Mesmo que pareça estar tateando no escuro por alguma brecha de claridade. Mesmo que só, Alice.

Coloquei agora Los Hermanos pra tocar, e eles dizem baixo que só-o-amor-é-luz-e-há-de-estar-daqui-até-alto-e-amanhã... Solto um riso frouxo e perco o rumo da escrita em emaranhados de pensamentos. Volto a achar que as palavras não são - e que nunca serão - o suficiente pra mim. E fica sempre aquela sensação de que resta um pouco mais a dizer, a escrever, a sentir. E ser.

Então deixa assim, a sensação e o sufoco de palavras não-ditas. E por fim, como numa prece, eu repito seguindo o som da musica: dá-me-luz-ó-Deus-do-tempo...
(Dai-nos, pequena Alice.)

Avante!

Nenhum comentário:

Postar um comentário