- É aquela história de cair sete vezes e se levantar oito, que te contei naquele sábado á tarde, lembra? Que entre um trago e outro do meu cigarro, e os seus goles lentos de um café já frio, eu repetia frases lidas em livros e citações de Bartlett's que eu costumava deixar por todos os cantos do meu apartamento. Você dizia que a literatura um dia iria me enlouquecer, - mal sabíamos que naquele tempo eu já era louca -. Mas não é sobre isso que eu quero te falar. Não hoje. Não agora. Quero dizer sobre como as coisas são passageiras demais, entende? Igual a esse momento, que ao final dessa frase já vai ter se tornado passado. Não, também não é assim que eu pretendia começar. É que as coisas se perdem rápido demais, cara. Quando reparamos, o mundo já dilacerou todos os nossos sentimentos e transformou tudo em pó. Não temos tempo pra mais nada, tampouco pra tristeza. Vê essa menina que passa agora do outro lado da rua, com um sorriso estampado no rosto? É a mesma que dias atrás chorou baixo num banheiro sujo achando que as coisas nunca iriam melhorar. Até cansar, limpar o rosto e continuar. A gente faz isso todos os dias, com tal naturalidade que nem nos damos conta. Porque a vida é assim mesmo, ainda não percebeu? Bicho de sete cabeças, planta carnívora, moinho de sentimentos.
Você entende o que quero dizer? Será que entende mesmo? E se no fundo, eu mesma não entender nada dessas coisas vagas, confusas e turvas que eu insisto em falar? E se, ainda mais no fundo, a salvação pra toda essa loucura seja procurar não entender nada disso? Quem vai dizer o que é certo, confirmar as minhas perguntas ou dizer que estou errada? Você? Eu? Ah, eu mesma já nem sei...

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